Em 1955, ano em nascíamos enquanto Congregação Religiosa no seio da Igreja, os bispos de nosso Continente Latino Americano se reuniam na cidade do Rio de Janeiro para refletir em comunhão a nossa realidade e tecerem projetos de ação comum. O Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM) gerou uma consciência comum e a co-responsabilidade pela evangelização no Continente. Evidenciou as injustiças sociais e estruturais no Continente. Despertou uma reflexão teológica e pastoral na AL.
Hoje, quais são os desafios que nos interpelam?
O que Deus está mostrando e pedindo à nossa Congregação?
O que a Igreja espera de nós?
Em busca de respostas a tais questões, ouçamos o Senhor com especial atenção neste Ano Capitular e, como “caminho” dirijo-lhes as seguintes palavras:
IX Assembleia Anual da Congregação dos Oblatos (Roseira, 12 a 15 de dezembro de 2017)
Tema: Aquecidos por uma espiritualidade mariana, buscamos a integração da mística e profecia na vivência oblaciana de nossos carismas.
Lema: "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”. (Jo 15,4)
Escolhemos este tema, considerando o encerramento das comemorações do Jubileu dos Trezentos Anos de Nossa Senhora Aparecida, do Jubileu dos Cem Anos de Nossa Senhora de Fátima, a festa de Nossa Senhora de Guadalupe e ainda, o carinho filial à nossa Mãe e Padroeira, Nossa Senhora das Vitórias. Nesses sessenta e dois anos de existência de nossa Família Religiosa quantas vitórias alcançamos com o auxilio de Nossa Senhora das Vitórias! E temos fé que, com Maria, haveremos de conquistar também as vitórias dos projetos que o Espírito nos suscitará neste ano capitular.
Escolhemos também para o tema a “integração da Mística e Profecia” como desafio não só para este ano capitular, mas também como elementos de base da vida religiosa. Este tema está em comunhão com Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e com a Confederação Caribenha e Latino Americana dos Religiosos (CLAR). Estas duas organizações trabalharão a “Integração da Mística e Profecia” em 2018.
A escolha do lema: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”, sensibilizado pelo pedido tão carinhoso e desafiador de Cristo a seus discípulos! Em meio à crise e aos desafios que a Vida Religiosa Consagrada vem atravessando, necessitamos evidenciar a nossa adesão ao Cristo que nos chamou para segui-Lo, pois Ele é sempre fiel ao chamado e às graças concedidas para vida discipular autêntica.
Ouvir a Palavra
Texto bíblico: Jo 15,1-8
Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta;
e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda.
Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós.
Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos.
Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados.
Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós será dado.
Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.
Vale a pena transcrever as palavras de Benjamin Buelta, citadas pelo Pe Adroaldo Palaoro, SJ, na sua reflexão por ocasião do 5º Domingo da Páscoa:
Quando se poda um ramo, podem continuar saindo pelos cortes pequenas gotas de seiva como se a videira chorasse a perda. O importante é acolher a poda, fazer o luto, despedir-se do perdido, e não petrificar-se numa queixa obsessiva que gira sobre si mesma paralisando o futuro. Se não se vive o luto e não se assume a perda, as feridas se prolongam no tempo e deixam um rastro de dor que nunca cicatriza.
Durante semanas, na videira podada não acontece nada por fora, mas por dentro, no escondimento da interioridade, célula a célula, ela vai sendo novamente gestada através de processos pequenos e invisíveis. O ritmo é lento e não responde às impaciências do agricultor nem a hostilidade do clima que abate sobre ela. Todo o trabalho é interior e silencioso.
Quando chega a primavera, a casca ressecada e endurecida da videira começa a abrir-se a partir de dentro pela força da vida que cresceu em seu interior. O rigor do frio vai se afastando de seu entorno. Aparecem os brotos, os ramos, as folhas e cachos de uvas. É tempo de surpresa, uma vitalidade assombrosa em sua pequenez e vulnerabilidade, que já não é possível esconder e deter debaixo da casca. As uvas maduras deixam transparecer o dinamismo da seiva vital.
Sentir com a Igreja
- Sentir com a Vida Religiosa Consagrada (CLAR e CRB)
O Plano Global da CLAR para o triênio 2016 a 2019 pede-nos: “Recuperar a Mística e a Profecia de nossos carismas congregacionais, como leitura própria do Evangelho e resposta específica aos clamores de hoje”(CLAR, 2015, p. 24)
Fortalecer a integração entre mística e profecia, com o coração ardente e pés de peregrino, de olhos abertos e ouvidos atentos às novas fronteiras de missão, acolhendo os impulsos do Espírito, no seguimento-missionário de Cristo Sacerdote.
A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), tem como Horizonte:
Como VRC em processo de transformação, conscientes da crise política-ética-social-econômica no Brasil, cremos que Deus está fazendo coisas novas (cf. Is 43,19). Iluminados pela Trindade, em comunhão com a Igreja e em sintonia com a CLAR, sentimo-nos convocados a viver “em saída” e a tecer relações de misericórdia, com palavras, gestos e atitudes humanizadoras, priorizando os empobrecidos e vulneráveis, as juventudes e a ecologia integral. Pelas trilhas da mística e da profecia e da esperança criativa, visamos fidelidade ao projeto de Deus.
Um olhar para o mundo contemporâneo com olhos de VRC localiza melhor a nossa missão. O mundo contemporâneo, dadas as condições da revolução científica do século XX, é moldado pela tecnologia e pela comunicação, não como meios, mas como ambiente que molda o ser humano. Por um lado, se acumulou e se acelerou de tal forma a cultura, que estamos numa enorme transformação das instituições. Já não vivemos na mesma casa e ainda não chegamos à nova casa, estamos “no caminhão de mudança em plena travessia”. Estamos em “crise” do que recebemos, em situação de liquidação, e em “pós” (pós-modernidade, pós-racionalidade, pós-política, pós-humano, pós-verdade...). A sensação é de desmoronamento e de corrupção generalizada. Com as demais crises, a raiz da atual crise humanitária de migrantes em massa e tragédias de fronteiras - crise política, crise ética, crise religiosa...
Há uma crise, finalmente, de ordem religiosa e espiritual na fluidez institucional e na fragmentação, no relativismo, na subjetivação unilateral, na mercantilização da religião, das Igrejas de sucesso no mercado, na crise de comunidades de vida...
A fé e a esperança que movem a VRC interpretam que o nosso mundo contemporâneo, com uma sensibilidade ferida por tantas crises, oportuniza uma sensibilidade aberta ao testemunho, à profecia, à oferta de alternativas. Ou seja, toda crise é uma oportunidade de conversão e crescimento.
O papa Francisco tem nos convidado a sermos “Igreja em saída” e por isso, buscamos nas Escrituras Sagradas a força dessa expressão e a lemos como “sair para algo novo”. A História da Salvação é uma experiência de “saídas”, para que acontecesse novidade, sempre em prol da Vida.
Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir para uma terra fértil e espaçosa... (Ex3, 7-8).
Diante de uma situação de sofrimento e opressão, o verdadeiro Deus da Vida se revela como um Deus que sai em missão de libertação, em favor da vida de todos, para criar algo novo, uma sociedade justa e igualitária.
Abrão aceitou o convite desafiador do Senhor: “Sai de sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei... eu o abençoarei... de modo que se torne uma bênção” (Gn 12, 1-2).
Januário Baleeiro de Jesus e Silva, movido pelo chamado de Deus e pelo desejo de ser sacerdote, aos nove anos de idade deixou a proteção e os cuidados de sua avó Páscoa e de sua tia Olímpia para entrar na Congregação dos Salesianos. Deixou os salesianos para fazer a experiência secular no Seminário de Belém do Pará. Logo após a ordenação deixou os trabalhos diocesanos para ser capelão na aeronáutica, após oito anos deixou a segurança e o status da capelania para fundar a Congregação. Após cinco anos em Lagoa Santa teve que sair às pressas dali para não ver a congregação ser supressa, num êxodo em 1960 por São José das Três Ilhas, até fixar residência em Monnerat em 1961. Não satisfeito, desejava a ascensão da Congregação, passando por Barra do Piraí, Tremembé, Taubaté, São Paulo e por fim Roseira.
São suas palavras: “Meu Senhor, Jesus Cristo e Divino Sacerdote, pelos méritos das dores da sempre Virgem Maria, auxiliai-me. Não fui eu quem se aventurou a esta dificílima iniciativa de fundar uma congregação; mas foi Vosso desejo”.
Em meio à itinerância, quantos desafios, tristezas, fome, sono, perdas..., mas movido pela inquietação, expectativa, esperança... Por esses caminhos quantas sementes do evangelho foram lançadas, vocações despertadas! Alguns voltaram para a segurança das “cebolas e hortaliças do Egito”, enquanto que outros perseveram no seguimento de Cristo Sacerdote e na companhia de Pe Baleeiro.
A VRC é o seguimento de Jesus com seu exemplo de esvaziamento de si em função da missão, do Reino, da vida plena para todos. Dizia nosso Fundador: “Ai de nós, Oblatos, se carregarmos a cruz de Cristo, mas não seguirmos a Cristo; ai de nós, se participarmos das dores de Cristo, mas nos recusarmos a segui-Lo com humildade e fazer tudo somente por amor a Cristo.” (Pe Baleeiro).
No mesmo ano que Pe Baleeiro fundou a nossa Congregação acontecia o 1º CELAM no RJ que veio evidenciar ao que Deus suscitava ao nosso fundador. A realidade da Igreja na AL na época era: falta de sacerdotes; diminuição da prática religiosa; ignorância religiosa; avanço das religiões não-católicas; pobreza crescente. Não percamos, pois, o contexto de nossas origens e a realidade que clamava por uma vida religiosa consagrada com tal identidade e missão, diferente de tantas outras que já existiam (cf. 1Cor 12, 5).
Não nos esqueçamos, irmãos de consagração, de que nos consagramos ao mesmo Deus que nos chamou e nos uniu em Família Religiosa para uma missão em comum, para Identidade específica na Igreja e no mundo. “Aquele que nos chamou é fiel”, permaneçamos também nós fiéis a Ele que nos fala e nos interpela constantemente para missão.
Pe. José Roberto Rosa, OCS
Superior Geral
Textos para celebrações em preparação ao VII Capítulo Geral
Antigo Testamento: Isaías 43,19
Vejam que estou criando uma coisa nova: ela já está brotando agora, e vocês não percebem?
Novo Testamento (Epístolas) Filipenses 2, 5
Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo
Novo Testamento (Evangelho): João 20, 21
Como o Pai me enviou, eu envio vocês!
Congregação (Pe. Januário Baleeiro): Introdução das Constituições, 1973
A vivência verdadeira dos conselhos evangélicos e demais valores contidos em nossas Constituições transforma o religioso Oblato num autêntico “alter Christus”, orante e missionário, obediente até a morte e morte de cruz, habilitando-o a cooperar com Cristo na salvação dos homens
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